Deputados aprovam criação da bancada negra na Câmara
O plenário
da Câmara dos Deputados aprovou, nessa quarta-feira (1º), a criação da bancada
negra. Os parlamentares aprovaram projeto de resolução que altera o regimento
interno em votação simbólica (quando não há contabilização dos votos). A
matéria vai à promulgação.
O partido Novo orientou contra a proposta, enquanto PL, minoria e oposição
liberaram os deputados. O grupo passará a participar de reuniões dos colégios
de líderes (com direito a voto e fala) convocados pelo presidente da Câmara,
Arthur Lira (PP/AL), e a usar o tempo de liderança durante as discussões, cerca
de cinco minutos a cada semana.
As reuniões de líderes ocorrem semanalmente com o objetivo de discutir a pauta
do plenário de votações e outros temas legislativos, como os relacionados às
comissões. A deputada Talíria Petrone (Psol/RJ) afirma na justificativa do
projeto que a criação da bancada “reforçará a voz e a representatividade de 56%
da população brasileira”. A proposta também é de autoria do deputado Damião
Feliciano (União/PB).
O líder do PSD, deputado Antonio Brito (BA), relator da proposta, afirmou que
fez questão de fazer parecer “isolando qualquer questão ideológica, de gênero e
política partidária de esquerda ou de direita”, focando apenas a criação da
bancada. “Isso aqui é um gesto simples. Esse gesto não é contra ninguém, ele é
a favor de todos nós e é a demonstração que nós não podemos só ver pretos e
pretas para ter fundo eleitoral de partido nem para PEC de Anistia para partido
que não cumpre. Nós queremos ver pretos e pretas compondo essa Casa e honrando
o nosso país. Façam esse gesto para com o Brasil”, disse.
Segundo relatório de Brito, há na Câmara 31 parlamentares que se declaram
pretos e 91, pardos, o que corresponde a cerca de 24% das 513 cadeiras. O
parlamentar argumenta que isso aponta para a legitimidade da criação do grupo.
A bancada será composta por parlamentares negros e negras e terá
coordenação-geral e três vice-coordenadorias. Serão realizadas eleições
anualmente a cada dia 20 de novembro, data em que é celebrado o Dia da
Consciência Negra.
Segundo o texto aprovado, a criação do grupo não resultará em aumento de gastos
financeiros para a Câmara. A matéria diz ainda que caberá à bancada “zelar pela
participação de seus respectivos deputados e deputadas nos órgãos e nas
atividades da Câmara”.
A deputada Benedita da Silva (PT/RJ) se emocionou ao discursar após a aprovação
do texto. “Viver 81 anos e ter dedicado maior parte da minha vida à política,
neste momento eu me sinto recompensada. Eu agora tenho uma bancada, eu agora
tenho uma frente que vai dar continuidade a uma luta de séculos e séculos”,
afirmou.
“Nesta Casa a questão não foi partidária e não deve ser partidária, é apenas
reconhecer na maioria da população aquilo que ela tem de direito. Ela deve ter
protagonismo e é o que nós iremos proporcionar através dessa frente. O
protagonismo da maioria da população brasileira, sem excluir os demais”,
continuou Benedita, que foi aplaudida após discursar.
A deputada Reginete Bispo (PT/RS) classificou a sessão como “um momento
histórico” na Câmara. “A bancada negra representa a radicalização na
democracia. Porque não basta estar nos espaços de poder, precisa ser
reconhecida e respeitada enquanto tal. A bancada negra aqui representa colocar
na pauta do dia, no centro do debate, um país justo, democrático e que
reconhece a importância da maioria do seu povo, que é preto, pobre, periférico
e excluído dos seus direitos.”
Já a deputada Adriana Ventura (Novo/SP) afirmou que tem respeito pelos
parlamentares que articularam a aprovação do projeto, mas disse que o pleito
debatido “não traz justiça”. “Acho que todos nós somos iguais. Temos que ser
tratados como iguais. E acho que, a partir daqui, delineia-se um novo formato
do regimento interno, porque outras bancadas podem surgir. Não podemos separar
brancos, negros, amarelos.”
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