PGR cita suspeita de corrupção de Ramagem na Abin
A Procuradoria-Geral da República (PGR) cita a suspeita de que
Alexandre Ramagem, diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no
governo de Jair Bolsonaro (PL) e cotado para disputar a Prefeitura do Rio de
Janeiro nas eleições deste ano, se corrompeu para evitar a divulgação de
informações sobre o uso irregular do software espião durante a gestão dele.
Informações sobre a atuação de Ramagem, amigo pessoal da família Bolsonaro,
foram utilizadas pelos investigadores para deflagrar a Operação Última Milha,
em 20 de outubro, quando a Polícia Federal (PF) prendeu oficiais da Abin e
servidores foram afastados.
Todos são suspeitos de
participação na compra e uso do First Mile, software capaz de monitorar a
geolocalização de aparelhos celulares. Ramagem, atualmente deputado federal
pelo PL, não foi alvo da ação, mas é citado no inquérito relatado pelo ministro
Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Procurado pela reportagem, o ex-diretor da Agência afirmou, por meio da
assessoria, que “representou na Polícia Federal” para obter informações sobre
as questões abordadas na matéria. O uso do First Mile veio a público após o
jornal O Globo revelar que dois servidores da Abin envolvidos em suposta fraude
licitatória no Exército citaram a utilização da ferramenta pela Agência no
processo em que seriam demitidos.
Os dois profissionais acabaram presos na operação da PF e demitidos no mesmo
dia. Eles são suspeitos de coerção ao utilizar o conhecimento sobre o uso do
software espião para evitar a demissão em processo disciplinar interno. A dupla
era investigada internamente por atuar em licitação do Exército utilizando
empresa em nome de parentes.
Segundo a PGR, Eduardo Izycki e Rodrigo Colli, “cientes do uso indevido do
sistema First Mile para fins alheios à missão institucional da Abin provocaram
o ex-diretor-geral, Alexandre Ramagem, a retardar o julgamento do PAD 03/2019”.
Ainda de acordo com o Ministério Público Federal (MPF), Ramagem teria
convertido o julgamento em diligência, com a nomeação de nova comissão
processante, e deixado de submeter as conclusões da primeira comissão ao
ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável por apreciar
e decidir sobre esses casos.
“Há indícios de prática de concussão e de corrupção ativa de Eduardo Izycki e
Rodrigo Colli e de corrupção passiva pelo ex-diretor-geral da Abin Alexandre
Ramagem”, diz o MPF. A defesa de Izycki e Colli disse que as investigações
tramitam sob sigilo e, por isso, não comentaria o caso.
O ministro Alexandre de Moraes, ao acatar pedido da PF para prisão, atrela a
necessidade da medida à busca de provas sobre “quais elementos estão em posse
destes (Izycky e Colli) a ponto de fazer o ex-diretor Alexandre Ramagem
praticar atos administrativos fora de sua competência na defesa destes”. Sobre
a compra e uso do software, a PF diz que Ramagem está entre os responsáveis
pelas ações e omissões e faz parte do “núcleo da alta gestão”, integrado por
policiais federais lotados em cargos de assessoramento e direção na Abin
durante o governo Bolsonaro.
A suspeita é a de que todas as irregularidades praticadas desde a compra, ainda
no governo de Michel Temer (MDB), em 2018, passando pelo uso e as tentativas de
evitar a apuração interna resultaram no monitoramento de diversas pessoas sem
relação com o trabalho da Abin de 2019 a 2021. Para a PF, os fatos apurados
apontam para a “apropriação indevida da Abin por parte dos altos gestores, em
sua maioria policiais federais, com o fim de reduzir o órgão ápice do sistema
brasileiro de inteligência a instrumento para fins ilícitos”.
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